quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Mente Voraz


A Mente Voraz


Ninguém desta casa está acima de mim. Ele nada me negou, a não ser a senhora, porque é a mulher dele. Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso e pecar contra Deus? Gênesis 39:9

A resposta de José para a mulher de Potifar é clássica. A cena se assemelha com a de uma novela: o jovem e a mulher mais velha; o escravo e a esposa do mestre, que trama seduzi-lo, aguarda o momento oportuno e, então, ataca. Mas, mesmo em desvantagem (os desejos da carne, a manipulação, a demonstração de poder), o jovem não age conforme o roteiro manda. José vira as costas e foge.

Não sabemos qual era a aparência da mulher de Potifar, se era atraente ou não. Por ser a mulher de um oficial do governo, há grande possibilidade de que fosse muito atraente. Sem dúvida, ela se adornou com as roupas e joias mais sedutoras que possuía para tentar atrair o jovem que havia escolhido para conquistar. Mas pode ser que ela não tenha sido nada atraente. A tentação geralmente ocorre por meios bem comuns. A tentação ocorre principalmente na mente, sussurrando que os prazeres proibidos são os melhores, que águas roubadas são doces. (Compare com Provérbios 7:21.)

A grande obra de Izaak Walton, The Compleat Angler [O Completo Pescador], aparentemente trata da arte de pescar; mas, na verdade, é mais uma reflexão sobre a vida. Walton observa: “Como pode algo tão pequeno atrair uma mente tão voraz?”

A mente voraz do peixe o leva a abocanhar uma isca minúscula pendurada na água. Da mesma forma, a mente voraz do ser humano o leva a abocanhar “iscas” menos do que atraentes que se apresentam diante dela.

Podemos observá-las ao longo do relato bíblico, pessoas se vendendo por coisas “tão pequenas”. Esaú abriu mão de seu direito de primogenitura por um prato de cozido de lentilhas. Acã vendeu a alma por uma capa comum e uma barra de ouro. E o pior: Judas, um dos 12, vendeu seu Senhor por trinta moedas miseráveis de prata. Vez após outra a sequência se repete: a pessoa se concentra na isca proibida, se encanta e abocanha o anzol.

Mas não José, graças a Deus! Como ele conseguiu sair ileso de uma tentação tão poderosa? Ele conhecia e amava a Deus e não faria nada – nada – que O desonrasse.

Meditações 2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Jesus casado?


Na semana passada, a descoberta de um fragmento de papiro com inscrições em copta (língua falada no norte do Egito antigo) e que alguns acreditam sugerir que Jesus teria sido casado deu o que falar na imprensa. ... Como era de esperar, as revistas semanais repercutiram o assunto, mas com abordagens um tanto diferentes. A revista Veja, com a matéria “Existiu uma senhora Jesus?”, dedicou pouco mais de meia página ao assunto. A reportagem informa que o uso do carbono 14 não é possível, pois acabaria destruindo o fragmento de apenas quatro por oito centímetros, e cita a historiadora Karen King: “Esse é o único texto antigo em que Jesus se refere explicitamente a uma esposa.” Mas é um texto bem posterior aos evangelhos bíblicos e envolto em controvérsias.

Veja lembra que “o celibato do clero [católico] só foi definitivamente decretado no Concílio de Trento, que ocorreu entre 1445 e 1563”. E conclui o texto com a declaração de um padre jesuíta chamado James Martin: “Se descobrissem que Jesus teve uma esposa, isso não mudaria minha fé. Apenas, quando eu fosse para o paraíso, perguntaria aos apóstolos por que eles omitiram uma informação tão importante em seus evangelhos.”

No mais, a matéria de Veja traz as mesmas fontes de sempre: teólogos liberais que mal acreditam na canonicidade e na inspiração da Bíblia. (Detalhe: o assunto de capa dessa edição da Veja [reprodução acima] é altamente “relevante”: o que as mulheres acham do novo best-seller sobre sadomasoquismo [leia sobre isso aqui]. Em contrapartida, deram apenas uma pequena chamada para as revoltas promovidas por radicais islâmicos.)

A revista IstoÉ aprofundou mais o assunto e revelou um jornalismo melhor ao consultar fontes diferenciadas e com visão diferente das fontes de Veja(apesar do sensacionalismo da chamada acima). Entres os entrevistados, dois arqueólogos adventistas: os doutores Rodrigo Silva e Jorge Fabbro. A matéria, assinada por Rodrigo Cardoso, informa que a referência à Maria (para alguns, a mãe de Jesus) é feita na primeira sentença do papiro, e cita a explicação do Dr. Rodrigo: é mais provável que a Maria mencionada no texto seja Maria Madalena e não Maria mãe de Jesus. “Silva [...] concorda, porém, com a professora Karen, de Harvard. Para ela, o papiro não é prova de que Jesus se casou.”

IstoÉ continua: “O documento, segundo ela, seria parte de um livro escrito no século II, ou seja, uma fonte muito tardia em relação aos dias de Cristo na Terra. Corrobora também para a dúvida o fato de, naquele período, uma comunidade de cristãos dissidentes – a maioria de Alexandria, no Egito – ter criado um movimento chamado gnosticismo, marcado pela produção de textos nos quais a figura do Jesus preconizada pelo Novo Testamento pode ter sido modificada para tornar o cristianismo mais palatável ao povo pagão alexandrino. Esse novo Jesus que nascera ali, entre outros traços, não sentia dor nem sofrimento. Ideias como a ressurreição, encarnação e morte expiatória na cruz, que não eram bem-vistas diante dos olhos do mundo grego de Alexandria, ficaram de fora dos textos apócrifos gnósticos, como os evangelhos de Tomé, Judas e Filipe. Também surgiu a necessidade de se criar uma esposa para Cristo para, como pregava o gnosticismo, confirmar a teoria de que espíritos evoluídos estavam sempre em casais e nunca sozinhos.”

Depois de mencionar o evangelho de Filipe, cujos fragmentos mencionam o episódio de um beijo de Jesus em Maria Madalena, IstoÉ cita Fabbro: “Nessa região e naquela época se discutia muito se era apropriado ao cristão se casar. Por essas evidências, supõe-se que o Evangelho da Esposa de Jesus seja um documento surgido em um ambiente de gnosticismo”.

“O fragmento apresentado no Vaticano, portanto, estaria se referindo a um outro Cristo, uma divindade maquiada, e não àquele presente no Novo Testamento”, conclui acertadamente o autor da reportagem.

Mais um detalhe levantado pela matéria: na Israel do século I, nobre não era apenas a pessoa solteira e celibatária. Assim também seria aquela que, mesmo casada, tivesse a coragem de deixar a família em segundo plano para servir ao trabalho de Deus. “Se Jesus fosse casado, seria uma vantagem para ele. Não haveria motivos para os evangelhos bíblicos negarem o fato”, diz o arqueó­logo Silva. Para ele, o Evangelho da Esposa de Jesus é mais um que reforça o fato de que o Cristo histórico não foi casado, uma vez que, se tivesse vivido uma relação marital, a discussão ou menção sobre isso apareceria em livros mais antigos do que os do século II. “Por outro lado, nota-se um silêncio absoluto no século I sobre o fato e uma grande efervescência sobre ele no século II. E foi assim porque o Jesus casado é uma característica de um Cristo construído pela teologia gnóstica.” 

Fonte: Criacionismo